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França - o aumento da expressão da utrofina é uma alternativa para um tratamento definitivo ou paliativo da distrofia muscular de Duchenne; há evidências que a utrofina possa exercer as mesmas funções da distrofina. O locus da utrofina é no cromossomo 6 humano e 10 do camundongo; as semelhanças entre a distrofina e a utrofina faz crer que derivam de um gene ancestral comum. No homem e no camundongo a utrofina é observada na superfície das membranas de células imaturas e é progressivamente substituida pela distrofina exceto na junção neuromuscular onde ela persiste. Portanto o encontro de drogas ou moléculas que aumentem a expressão da utrofina seria importante na terapia. As vantagens seriam: a) não haveria necessidade de  substituição do gene já que o gene da utrofina já esta presente; b) as reações imunológicas poderiam ser mínimas. No momento só duas moléculas que se expressam na junção neuromuscular, neural agrin e heregulin, mostraram capacidade de aumentar a expressão da utrofina no citoplasma e os níveis de mRNA utrofina, respectivamente, em cultura de células. Uma proteína que se liga a distrofina e utrofina, a sintrofina, é associada a uma enzima  óxido nítrico sintetase. Neste trabalho os autores conseguiram demonstrar o aumento da distrofina em células musculares de camundongos normais e em portadores de uma forma experimental de distrofia muscular tratados com L-arginina (um doador de óxido nítrico através da oxido nítrico sintetase). Os autores concluem que o uso de drogas podem aumentar significantemente a utrofina na célula muscular e contribuir para um tratamento paliativo da distrofia muscular.

Nesta semana o Dr Michael Chopp do Henry Ford Health Science Center (Detroit, Michigan)  em uma palestra no 27o  Congresso Internacional da Associação Americana do AVC descreveu os resultados positivos com o uso do viagra em animais com derrame cerebral experimental. Após a palestra ele revelou a Reuters  (http://www.reutershealth.com/frame2/arch.html) que o viagra poderia ser usados em várias doenças neurodegenerativas como o Parkinson e a distrofia muscular. Esta declaração repercutiu na imprensa que desconhecia esta possibilidades de utilização do viagra. O Viagra, cujo nome químico é sildenalfil, é o medicamento mais vendido no Brasil e um dos mais vendidos no mundo. Ele foi sintetizado como droga para atuar em doenças cardíacas, como a insuficiência cardíaca ou angina, mas nos testes realizados ele mostrou efeito mais promissor no tratamento da impotência sexual e para esta finalidade ele tem sido prescrito. Por seu mecanismo de ação ele aumenta o óxido nítrico, que é um mediador envolvido em várias atividades celulares. Em tese, todas as doenças nas quais o aumento do óxido nítrico na célula é benéfico poderiamos utilizar o viagra. Assim ele tem sido experimentado no tratamento de outras doenças clínicas como a hipertensão pulmonar. Vários trabalhos tem demonstrado o importante papel do óxido nítrico no aumento da expressão da utrofina e relacionando a sua ausência com muitas alterações da estrutura da célula muscular em portadores de distrofia. Neste sentido muitos dos tratamentos paliativos atuam aumentando os níveis do óxido nítrico como a L-arginina. Portanto o uso do Viagra na distrofia tem a sua lógica e poderia ser mais um produto no arsenal de tratamentos paliativos. Não encontramos na literatura nenhum trabalho descrito com este uso mas é provável que possa já estar sendo testada em animais. Um dos grandes impedimentos do uso desta droga é o seu custo que é bastante elevado.

http://scienceweek.com/search/sworevi.htm

http://www.pnas.org/cgi/content/full/95/25/14592

USA - anualmente se realiza se junho em Pittsburgh uma conferência reunindo vários pesquisadores que apresentam aos pais de pacientes com distrofia um resumo das pesquisas em andamento; os resumos das principais palestras são: função cardíaca - faz um resumo das alterações cardíacas na distrofia muscular de Duchenne e Becker, o por que elas ocorrem e que tipo de terapia gênica  está sendo testada; desenvolvimento de uma estratégia usando células autologas na distrofia muscular de Duchenne - os pesquisadores estão desenvolvendo uma técnica para corrigir as células da medula óssea em laboratório e tentando utilizá-las para corrigir a doença muscular; adenovirus como vetor para terapia gênica - neste resumo estão colocadas algumas das dificuldades para levar o gene da distrofina até o músculo e as estratégias para conseguir suplantar estes entraves; superexpressão da utrofina no tratamento da distrofia muscular de Duchenne - neste resumo o autor analisa as possibilidade de utilização da utrofina em substituição a distrofina; deflazacort e óxido nítrico no tratamento da distrofia muscular experimental - Judy E. Anderson divulga suas pesquisas sobre o papel do óxido nítrico na distrofia muscular experimental, sobre o papel do deflazacort que aumentaria os níveis de óxido nítrico muscular e os trabalhos em andamento que estudam os efeitos do deflazacort administrado em conjunto com as drogas que aumentam o óxido nítrico; miostatina - esta molécula identificada  muito recentemente tem a capacidade de inibir o crescimento muscular; camundongos com distrofia muscular e sem o gene responsável pela síntese da miostatina tem maior massa e maior força muscular; a descoberta de drogas inibidoras da miostatina poderia contribuir para o tratamento da distrofia muscular.

Canadá - No  10o Congresso Internacional de Doenças Neuromusculares dois grupos independentes apresentaram trabalhos que mostram que duas substâncias administradas em camundongos com distrofia muscular conseguiram retardar a evolução da doença através do aumento da utrofina. Um dos trabalhos realizado na França mostrou que a L-arginina pode aumentar os níveis de utrofina em camundongos com distrofia muscular. Outro grupo da Filadélfia encontrou que a proteína heregulina tem o mesmo efeito. Ambas retardaram a fraqueza muscular associada a doença. Desde 1989 os cientistas consideram a utrofina como um alvo para o tratamento da distrofia muscular, ou através da terapia  gênica ou aumentando a sua produção pela utilização de medicamentos. A L-arginina foi escolhida por ser um combustível da óxido nítrico sintetase, uma proteína que gera o óxido nítrico. A óxido nítrico sintetase é ligada a utrofina e se acredita que seu aumento pode ter o mesmo efeito que o aumento da utrofina. Após alguns meses de administração de L-arginina, que foi dada uma vez ao dia por 5 dias na semana, os músculos dos membros e da respiração mostraram poucos sinais de degeneração e a força dos músculos respiratórios era significantemente maior que nos camundongos não tratados. Os animais tratados com L-arginina apresentaram também níveis baixos de CK, a enzima liberada no sangue pelos músculos lesados. O grupo americano que estuda a utrofina há anos já tinha identificado que a heregulina, uma proteína liberada pelos nervos para estimular o desenvolvimento muscular,  tinha a capacidade de "ligar" o gene da utrofina. Os músculos dos membros receberam injeção de heregulina 2 vezes por semana por três meses e mostraram menos degeneração e aumento da resistência ao dano provocado pela contração muscular. Os resultados são ainda experimentais e não se sabe ainda a toxicidade da heregulina. Kay Davies que descobriu a utrofina sugere pelos seus estudos que os tratamentos devem aumentar os níveis de utrofina em cerca de 10 vezes para proteger completamente os músculos. Com a L-arginina os níveis de utrofina aumentaram em cerca de 2,5 vezes e com a heregulina 3 vezes.

França - no dia 7/01/2005 noticiamos uma pesquisa na qual o aumento da alfa 7B integrina diminuiu os sintomas da distrofia muscular em camundongos. Neste pesquisa com camundongos os animais foram tratados com L-arginina. Os animais apresentaram aumento da expressão da alfa 7 B integrina com este tratamento e o músculo diafragma apresentou redução das alterações degenerativas. Este pode ser um caminho para tratamento da doença até que um tratamento definitivo apareça. Este estudo será publicado em breve. O resumo, em inglês, pode ser lido abaixo:

(IN PRESS: FEBS Letters, 2005): α7B integrin changes in mdx mouse muscles after L-arginine administration

Delphine Chazalette, Karim Hnia, François Rivier, Gérald Hugon and Dominique Mornet - France

Abstract

Muscle fibers attach to laminin in the basal lamina using two mechanisms, i.e., dystrophin with its associated proteins and α7β1 integrin. In humans, gene-mutation defects in one member of these complexes result in muscular dystrophies. This study revealed changes after L-arginine treatment of utrophin-associated proteins and the α7B integrin subunit in mdx mouse, a dystrophin-deficient animal model. In the two studied muscles (cardiac muscle and diaphragm), the α7B integrin subunit was increased in 5-week-old treated mice. Interestingly, the diaphragm histopathological appearance was significantly improved by L-arginine administration. These results highlight a possible way to compensate for dystrophin deficiency via α7β1 integrin.

França - os autores deste trabalho e outros autores já tinham relatado que a L-arginina pode aumentar a utrofina e compensar a deficiência de distrofina em camundongos com distrofia muscular, atuando através do óxido nítrico. Neste estudo usando ressonância magnética e análise dos músculos eles comprovaram este efeito em camundongos. Eles testaram uma outra droga, denominada molsidomine, uma droga que gera óxido nítrico, e observaram também uma melhora muscular. Eles concluem que o uso de drogas que atuam sobre o óxido nítrico é uma ótima estratégia para tratamento da distrofia muscular de Duchenne, enquanto a terapia definitiva não estiver disponível. O resumo do artigo poder ser lido abaixo:

(IN PRESS: Neurobiology of Disease 2005;20(1):123-30) L-arginine improves dystrophic phenotype in mdx mice

Vincent Voisin, Catherine Sébrié, Stéfan Matecki, Hua Yu, Brigitte Gillet, Michèle Ramonatxo, Maurice Israel and Sabine De la Porte - France

Abstract

A possible treatment for Duchenne muscular dystrophies would be to compensate for dystrophin loss by increasing the expression of utrophin, another cytoskeletal protein of the muscle membrane. We previously found that l-arginine, the substrate for nitric oxide synthase, significantly increased utrophin level in muscle and targeted it to the sarcolemma. Here, we have addressed the expected benefit in the mdx mice. Magnetic resonance imaging of lower limbs revealed a 35% reduction of the necrotic zones, confirmed by histological staining of muscles. This regression of the necrosis was also supported by the drastic reduction of Evans blue incorporation, a cell impermeable dye. The creatine kinase level in the serum decreased by 57%. Utrophin level increased 2- to 3-fold in muscles. β-dystroglycan was relocalised with utrophin to the membrane. In the diaphragm, the most affected muscle in mdx mice, the isometric tension increased by 30%, with regression of collagen and of cytoplasmic lipid overloading. Finally, molsidomine, a therapeutic agent that is converted to a NO donor, also attenuated the dystrophic phenotype. Our results suggest that pharmacological activators of the NO pathway may constitute a realistic treatment for Duchenne and Becker muscular dystrophies.

USA - o uso de corticóides já está bem estabelecido como uma forma de tratamento de algumas formas de distrofia como a de Duchenne e Becker. Vários estudos em camundongos que tem ausência de distrofina demonstraram que a L-arginina melhora a força muscular. Inclusive muitos pacientes já tem utilizado a L-arginina sem que o seu efeito esteja demonstrado completamente em seres humanos. Neste estudo os autores demonstraram  que o deflazacort, uma forma de corticóide, associado a L-arginina poupa os músculos da lesão induzida pelo exercício e aumenta a força muscular dos animais. Para os autores os resultados podem indicar que esta associação possa ser efetiva também em humanos para melhorar a qualidade de vida dos portadores de distrofia muscular de Duchenne e Becker.

 

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