CREATINA

Introdução

Estudos deste século demonstraram que o desenvolvimento  da fadiga durante exercícios físicos em seres humanos pode ser  retardado pela adição de grandes quantidades de glicina na dieta. Gerou-se, então, a hipótese de que a glicina, sendo um precursor  da creatina (Cr), estimularia sua biossíntese elevando a  concentração de Cr muscular e, conseqüentemente, melhorando a  performance no exercício.

Em 1981, Sipila demonstrou pela primeira vez a capacidade  da suplementação de Cr elevar a força e melhorar a performance  física. Neste estudo, pacientes que sofriam de atrofia  da coróide e retina receberam suplementação de Cr em uma  tentativa  de  brecar  a  progressão  da  doença. Os sete pacientes  receberam 1,5g de Cr por dia durante um ano. Estes  apresentaram aumento de 10% no peso no início do tratamento e alguns referiram aumento da força. Um paciente que, coincidentemente, era um corredor ativo melhorou seu tempo de 100 metros em  aproximadamente 10%.

É estimado que 50% dos jogadores da NFL (Liga Nacional de  Futebol Americano – EUA) e pelo menos 25% dos jogadores  profissionais de hóquei, basquete e beisebol (EUA) tomam Cr. Em  1996, as vendas de Cr foram estimadas em US$50 milhões, em  1997 excederam US$100 milhões e em 1998 foi previsto mais de  US$200 milhões. Em 1996 os americanos consumiram 1,2 milhões  de quilos de Cr e até 1998 o consumo aumentou para 4 milhões de  quilos anuais.

Fontes e Fisiologia da Creatina

A Cr é encontrada primordialmente em alimentos, e  principalmente em carnes, o que reduz a ingestão de creatina pelos  vegetarianos. Uma dieta típica contém de 1 a 2g de Cr;  e esta  não é considerada um nutriente essencial , pois também é sintetizada pelo organismo.

A creatina endógena é sintetizada a partir dos aminoácidos arginina, glicina, e metionina no fígado, rins e pâncreas. O turn-over diário de Cr é de aproximadamente 2g, sendo que a Cr metabolizada no fígado é reposta em quantidades  equivalentes pela síntese endógena (1g) e  pela dieta (1g).

A Cr é ativamente transportada do plasma para o interior das fibras do músculo esquelético, onde está localizada 95% da Cr do corpo. A possibilidade da suplementação de Cr afetar a síntese endógena  permanece incerta. Alguns estudos relatam que não existe relação  entre a suplementação e a síntese endógena,  apoiados em  dados que demonstram que, após o término de uma temporada de  suplementação, os níveis musculares de Cr correspondem àqueles  encontrados antes da suplementação. Porém, Mujika, Thompson  e Jenkins  sugerem uma relação de feed-back entre a  suplementação e a biossíntese.

Outros tecidos que armazenam Cr, mas em menores  quantidades, são os músculos cardíaco e liso; assim como o  cérebro, rins, espermatozóides e retina.

Um adulto de 70 kg possui aproximadamente 120g de Cr nos  músculos.

No fígado, a creatina é ciclada não enzimaticamente a creatinina, que é  excretada regularmente na urina. Até que a Cr seja transformada em creatinina, existe um equilíbrio dinâmico no músculo entre Cr e fosfocreatina (PCr) .(Figura 1)

 

Mecanismo  de  Ação  da  Creatina  no  músculo

            No músculo em repouso, o ATP produzido pela respiração aeróbica é usado não somente pelo requerimento energético basal,  mas também como doador de grupos fosfato para que a Cr forme a  reserva de PCr.                    

Durante períodos de exercícios físicos de alta intensidade, a  demanda de ATP aumenta centenas de vezes em relação ao  repouso. As células musculares utilizam ATP muito rapidamente  e este existe em uma quantidade extremamente limitada, suficiente  apenas para poucos segundos de atividade intensa. A maneira mais rápida de se restabelecer o ATP é através da transferência  do grupo fosfato da PCr para o ADP, catalisada enzimaticamente  pela creatina-quinase. A  PCr existente nos músculos prolonga o  tempo de níveis elevados de energia de  2 a 3 segundos (ATP) para quase 10  segundos (ATP +  Cr).

O organismo pode recarregar Cr de volta a PCr em 30 a 60  segundos. Um bom exemplo aplicado é a explosão muscular em  jogadas específicas do futebol americano, nas quais há 6 segundos  de força máxima e aproximadamente 45 segundos que antecedem  a próxima jogada.

Texto extraido do artigo "Creatina: Os Efeitos de sua Suplementação Oral na Fisiologia Humana e Performance Física " de Bruno Oliveira Cardelino, Edgar Santiago Valesin Filho, Gabriele Zamperlini Netto, Giuliano Robba Asola e  David Feder em análise para publicação.